Recentemente assisti ao documentário Evelyn que aborda um tema bastante duro: o suicídio.
Ele foi dirigido e estrelado pelo premiado diretor de documentários investigativos, Orlando von Einsiedel.
Apesar de não ter receio de se colocar em situações de alto risco, foram necessários treze longos anos para que o diretor encontrasse a coragem de enfrentar a tragédia que se abateu sobre a própria família: o suicídio do irmão, Evelyn, aos 20 anos de idade.
Quando finalmente o fez, foi do jeito que sabia se expressar. Convidou os outros irmãos para participarem de um documentário. Durante cinco semanas caminharam pelas trilhas que haviam feito antes com Evelyn, e conversaram sobre ele com os pais e amigos mais próximos.
Em dado momento do documentário surgiu um poema que me tocou profundamento. Os versos iniciais foram proferidos por Orlando.
Querendo conhecê-lo por inteiro, descobri que foi escrito por Nicholas Evans e está no livro The Smoke Jumper, ainda não publicado no Brasil. A tradução imperfeita é de minha autoria, e o original pode ser encontrado em https://www.evelynmovie.com/poem
Caminho em você
Se eu for o primeiro de nós a morrer,
Não deixe a tristeza escurecer o seu céu por muito tempo.
Seja intenso, mas modesto em seu luto.
Houve uma mudança, mas não uma partida.
Pois assim como a morte faz parte da vida,
Os mortos vivem para sempre nos vivos.
E todas as riquezas reunidas em nossa jornada,
Os momentos compartilhados, os mistérios explorados,
As camadas de intimidade que com o tempo acabaram acumuladas,
As coisas que nos fizeram rir, chorar ou cantar,
A alegria da neve sob o sol ou o primeiro desenrolar da primavera,
A comunicação sem palavras do olhar e do toque,
O saber,
Cada doação e cada receber,
Não são flores que desbotam,
Nem árvores que caem e se desfazem,
Nem são pedras,
Pois nem mesmo a pedra suporta o vento e a chuva,
E poderosos picos de montanhas com o tempo se reduzem a areia.
O que nós éramos, nós somos.
O que nós tivemos, nós temos.
Um passado conjunto, imperecível e presente.
Então, quando andar pela floresta, onde uma vez caminhamos juntos,
E buscar em vão pela minha sombra no caminho ao seu lado,
Ou fizer uma pausa, onde sempre fizemos, na colina para contemplar a terra,
E vendo alguma coisa, procurar como de costume pela minha mão,
E, ao não encontrá-la, sentir-se engolido pela tristeza,
Fique quieto.
Limpe seus olhos.
Respire.
Escute meus passos em seu coração.
Eu não fui embora, apenas caminho em você.