Li A Boa Terra de Pearl Buck na adolescência. Dessa primeira leitura guardei uma boa lembrança.
O exemplar que acabei de ler não é mais o mesmo. O que tenho em mãos faz parte da coleção Grandes Sucessos, lançada em 1981 pela editora Abril Cultural. Juntamente com outros, sobreviveu a diversas mudanças – tanto de cidades quanto de apartamentos – e nunca tinha sido manuseado. Dessa coleção já li Lolita, mas não A Romana de Alberto Moravia, nem O Planeta do Sr. Sammler de Saul Bellow. Preciso reverter essa situação urgentemente. É triste guardar por tanto tempo livros que nunca foram lidos.
Os dois últimos títulos estão esgotados. Melhor sorte tiveram os seus colegas de coleção, A Boa Terra e Lolita, que foram reeditados pela Alfaguarra.
Desnecessário tecer loas à importância de Lolita, considerado um cânone da literatura ocidental. Quanto A Boa Terra, cuja leitura andava esquecida, é bom saber que pode ser apreciada pela atual geração de leitores.
O livro é um empolgante retrato de uma China rural, marcado por profundos abismos sociais e tradições milenares, onde o respeito aos deuses e antepassados convive com a venda das filhas como escravas. Uma China onde as intempéries climáticas provocam grandes catástrofes naturais e destroem sonhos e planos.
A autora tinha apenas três meses de idade quando seus pais missionários americanos a levaram para a China. Aos dezessete anos retornou aos EUA para concluir os estudos. Mas sua identificação cultural era outra e, assim que foi possível, regressou ao país que tanto amava.
No entanto, a situação política na China deteriorava-se rapidamente. Quando eclodiu a Guerra Civil as diferentes facções concordavam apenas em uma coisa: os estrangeiros eram o grande inimigo. Por ser americana, Pearl Buck foi forçada a deixar o país e nunca mais teve permissão para voltar.
Imagino que a Boa Terra tenha sido a forma encontrada para mitigar as saudades e eternizar um modo de vida que ela compreendia e respeitava.
A sua paixão foi recompensada pois, além de conquistar um grande sucesso de público, o livro foi agraciado em 1932 com o prêmio Pulitzer. Seis anos mais tarde, Pearl Buck receberia o prêmio Nobel da Literatura.
A obra de Pearl Buck é uma janela reveladora da alma e dos costumes do povo chinês. Uma China que não existe mais, mas sempre fascinante e merecedora de ser lembrada.
- A Boa Terra
Pearl Buck
Editora Alfaguara
R$ 54,90
E-book R$ 29,90