No horóscopo chinês, 2018 é o ano do cão. Para mim, em termos literários, este tem sido o ano do gato. Explico
Numa das visitas que fiz à livraria, uma vendedora recomendou-me vivamente o livro Sobre gatos, da escritora inglesa Doris Lessing.
Em um post anterior, comentei que não sou uma apaixonada pelos felinos, e por essa razão declinei a sugestão.
No entanto, a conversa sobre gatos fez-me lembrar de ter em casa um livro de capa bonita, que também abordava esse universo: Relatos de um gato viajante.
Imperturbável, ele aguardava – escondido no meio da pilha que não para de crescer – pelo momento certo em que eu lhe daria atenção.
Acredito sinceramente que é o livro que escolhe quando deseja ser lido pelo leitor, e não o contrário. A hora de ler Relatos de um gato viajante havia chegado.
A história, narrada pelo próprio gato, começa quando ele é atropelado por um carro, sendo depois resgatado por um jovem solitário.
Para quem estava habituado a viver nas ruas e sempre prezou a liberdade não foi fácil aceitar a vida doméstica. Mas, como tudo na vida, existem as compensações. Aos poucos estabeleceu-se uma convivência harmoniosa entre Nana o gato, e Satoru o humano.
Tudo parecia ir muito bem, até que um dia Satoru e Nana iniciam uma viagem pelo Japão para encontrar, entre os amigos do primeiro, alguém que pudesse ficar com o animal.
Reconheço que no inicio levei a leitura de Relatos de um gato viajante de uma maneira um tanto ou quanto despreocupada. Era uma leitura agradável fazendo um contraponto à anterior que tinha sido mais densa. No entanto, à medida que a trama avançava, envolvi-me numa história sutil e emocionante que encheu meus olhos de lágrimas, como não acontecia há muito tempo.
Nova visita à livraria, nova descoberta. Jogado displicentemente, como se tivesse sido descartado por outro cliente, encontrei um gatinho aninhado no meio de flores.
Folheei O gato e as orquídeas e foi amor à primeira vista. O livro possui o formato de um quadradinho, tendo cada lado não mais de dezessete centímetros. O interior é composto de quarenta delicadas aquarelas, que retratam as paixões da ilustradora Kwong Kuen Shan. Cada desenho é acompanhado por um poema, provérbio ou trecho de clássicos chineses, como este pensamento bem felídeo:
Às vezes deito e durmo,
Às vezes deito e bocejo,
Na maioria das vezes, só deito e vivo
Pois estar vivo é a maior dádiva de todas.
Curiosamente, hoje de manhã, entreouvi na seção de frutas do supermercado a conversa de dois funcionários. Um criticava os comentários sarcásticos feitos por um colega: “ele é um cara muito felino”.
A frase pinçada no ar fez-me sorrir, e soou como um sinal de que talvez estivesse na hora de dar uma chance às páginas de Sobre Gatos, inicialmente rejeitadas. Quem sabe eu gosto?
- Sobre gatos
Doris Lessing
Editora Autêntica
R$39,80
- Relatos de um gato viajante
Hiro Arikawa
Editora Alfaguara
R$ 44,90
E-book R$ 29,90
- O gato e as orquídeas
Kwong Kuen Shan
Estação Liberdade
R$ 28,00