O filho de uma amiga querida apaixonou-se por uma baiana. Do Rio de Janeiro vieram vários amigos para o casamento.
A maioria já conhecia Salvador, mas não as últimas novidades culturais que surgiram na cidade. Como a transformação dos fortes de Santa Maria e São Diogo em espaços culturais, sendo o primeiro dedicado à fotografia baiana e o segundo ao pintor Carybé. São dois lugares que enchem de orgulho os soteropolitanos.
Depois de visitá-los, levei meus amigos cariocas para almoçar na Casa de Tereza no Rio Vermelho. Encantaram-se com a combinação exótica de sabores das roskas e com o toque requintado dado pela chef Tereza Paim à tradicional e saborosa culinária baiana.
Depois de uma refeição substanciosa talvez meus amigos preferissem voltar para o hotel e descansar um pouco, mas como poderíamos estar tão perto da Casa do Rio Vermelho e não lhes mostrar onde viveram Jorge Amado e Zélia Gattai?
Gosto tanto desse lugar que não me incomodo de visitá-lo mesmo que por dois dias consecutivos. Na verdade foi isso que fiz: de tarde e na manhã do dia seguinte, com outro casal que também viera para o casamento.
Sempre tem alguma novidade, um detalhe que me passou despercebido. E o que dizer da atmosfera do lugar? Não é paz o que sinto, mas uma energia hospitaleira e amiga.
Pois bem, sábado de manhã lá estava eu de novo na Casa do Rio Vermelho. Desta vez prestei atenção ao vídeo que passava no ambiente dedicado aos amigos do casal e às muitas celebridades internacionais que vieram a Salvador para conhecer pessoalmente o autor de Jubiabá.
Em voz alta comentei que ainda não tinha lido esse livro. Quando a apresentação terminou fui surpreendida pelo meu marido que discretamente se afastara para comprá-lo na lojinha da casa-memorial.
Energia boa circulando, pequenas delicadezas, ali tudo inspira a reforçar os vínculos de um relacionamento amoroso.
Ainda não terminei de ler Jubiabá, mas já estou envolta em sua magia. De lápis em punho sublinho e releio frases que me encantam:
“O silêncio e o sossego desciam de tudo e subiam de tudo”; “com a noite veio um vento grosso, que apertava os homens no pescoço e assoviava nos becos” e a minha favorita, “morreu de morte feia. Nele o olho da piedade vazou. Ficou só o da ruindade. Quando ele morreu o olho da piedade abriu de novo”.
“O olho da piedade vazou… O olho da piedade vazou…”, as palavras rolam dentro da boca. Como é possível transformar a falta de compaixão, indiferença, sentimento tão ruim, em algo poético e bonito de se dizer e escutar!
Para os brasileiros, Jorge Amado é um imortal das Letras. Se vivo fosse seria um forte candidato ao prêmio Nobel da Literatura. Com certeza seu legado literário merecia.
- Jubiabá
Jorge Amado
Editora Companhia das Letras
R$ 57,90
- Restaurante Casa de Tereza
R. Odilon Santos, 45
Rio Vermelho – Salvador – BA
Tel. (71) 3329-3016
Casa do Rio Vermelho
R. Alagoinhas, 33
Rio Vermelho – Salvador -BA
Tel. (71) 3333-1919