Costumo acessar o Facebook mais vezes do que gostaria e admito que o novo hábito (ou vício) rouba-me um tempo precioso que deveria ser dedicado a afazeres mais construtivos.
Claro que gosto de ver as fotos dos amigos, ler os pensamentos inspiradores, as receitas infalíveis de sucos que ajudam a emagrecer e assistir a dezenas de vídeos engraçadinhos, mas quando finalmente resolvo dar um basta nesse rolo infinito de informações, quase sempre me pergunto: O que sobrou de tudo isto, valeu a pena?
No entanto, por vezes sou surpreendida. Recentemente, abri com alguma displicência um video francês legendado, que alguém postara na minha linha do tempo.
Durante uma hora e quarenta minutos, emocionei-me profundamente com o sensível documentário-ficcional O cérebro de Hugo, realizado por Sophie Révil, que aborda um tema incômodo e ainda não muito bem compreendido: o autismo.
O documentário intercala a história de Hugo – reunindo em um único personagem os múltiplos obstáculos vividos por diversas pessoas – com os depoimentos reais de crianças, adolescentes e adultos, portadores dessa síndrome que compromete as habilidades de comunicação e interação social.
Recordei que até há bem pouco tempo (início dos anos 1980) vigorava a tese do psicólogo Bruno Bettelheim, pela qual as crianças se enclausuravam em si mesmas para se protegerem da frieza emocional de suas mães, apelidadas de “mães geladeiras”.
Não consigo mensurar o sofrimento vivido por essas mulheres que, ao procurarem ajuda, eram apontadas como responsáveis pelo insucesso comportamental de seus filhos.
O documentário retrata a dificuldade que os autistas têm em interagir com familiares e estranhos, e os esforços feitos por todos aqueles que os amam para que consigam criar laços afetivos e explorar suas capacidades intelectuais e artísticas.
O cérebro de Hugo é uma ponte que cruza um rio caudaloso, repleto de redemoinhos traiçoeiros, como a ignorância e o preconceito. No entanto, quem conseguir chegar à outra margem, perceberá que eles, assim como nós, desejam apenas ser aceitos e amados.
Para conhecer um pouco mais sobre o tema, recomendo a leitura de O filho antirromântico, escrito por uma mãe e professora de literatura, Priscilla Gilman.
- O Filho Antirrromântico
Priscilla Gilman
Editora Companhia das Letras
R$ 39,90
E-Book R$ 27,90