Histórias de migrações

Quando terminei de ler Terra Americana fiquei interessada em conhecer outras histórias de migrantes. Ao procurar por sugestões constatei que já tinha lido algumas.

Americanah, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie e Aqui estão os sonhadores da escritora camaronense Imbolo Mbue.

O primeiro conta a história de uma jovem nigeriana, Ifemelu, que emigra para os Estados Unidos para cursar uma universidade. O romance acompanha a vida de Ifemelu nos dois países, e narra a sua história de amor com Obinze, colega de colégio.

O segundo livro relata as experiências de duas famílias na cidade de Nova York durante a crise financeira de 2008: uma família de imigrantes dos Camarões, a família Jonga, e a de seus empregadores ricos, a família Edwards.

Os dois livros receberam comentários no blog e podem ser acessados clicando em cima do título.

Li também O retorno da escritora Dulce Maria Cardoso. Apesar de não se tratar de uma migração propriamente dita – quem deseja entrar no país não são estrangeiros, mas nacionais nascidos num outro continente -, os recém-chegados são recebidos com desconfiança e hostilidade. São portugueses fugidos das ex-colonias e chegam aos milhares na metrópole. Recebem o nome de os retornados, mas poderiam também ser chamados de os indesejados. O livro é impactante, como tudo o que escreve a minha escritora portuguesa favorita.

Puxei pela memória e lembrei de O clube da Felicidade e da Sorte da escritora norte-americana Amy Tan, filha de imigrantes chineses.

É uma pena que o livro só possa ser encontrado em sebos, porque, tenho certeza, uma nova geração de leitores se encantaria com a história das quatro mulheres chinesas que emigraram para os EUA na década de 40. Elas refizeram suas vidas em São Francisco e para não esquecer as tradições da terra natal e poder repassá-las às filhas (para quem os únicos valores que importam são os do ‘american way of life’), se reúnem semanalmente em torno de uma mesa de mahjong. Está criado assim ”O clube da felicidade e da sorte”.

Na estante, encontrei um outro livro maravilhoso, Buda no Sótão da escritora Julie Otsuka. Ele conta os sonhos de mulheres que deixaram o Japão para se casar com desconhecidos nos EUA. A narrativa narra o choque inicial dessas mulheres ao chegarem a São Francisco na década de 1910, o nascimento e criação dos filhos, que não se interessam pela cultura de seus pais, e, por fim, a deportação de famílias inteiras para campos de exclusão. Este fato aconteceu depois que a base militar norte-americana Pearl Harbour foi bombardeada pelos japoneses, durante a Segunda Guerra Mundial.

O mundo atual não está nem um pouco acolhedor para aqueles que precisam recomeçar a vida em outro país. Será que se conhecêssemos suas histórias seríamos mais tolerantes? Será que a literatura tem o poder de construir pontes de empatia? Tomara que sim.

 

Vale do Encantamento

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Por quase três semanas acompanhei Amy Tan pelo Vale do Encantamento.

Conheci a Xangai do início do séc XX e me instalei no Caminho Oculto de Jade – uma casa de cortesãs de alto nível – onde os segredos da arte de seduzir me foram revelados.

Violet, a personagem principal do livro, é fruto do amor inter-racial entre Lucia, jovem americana, e o único herdeiro de uma tradicional e milenar família chinesa.

Logo no início não simpatizei com aquela menininha voluntariosa e insegura. No entanto, me condoí com seu sofrimento quando foi abandonada à própria sorte pela mãe.

Não era suposto Violet se tornar uma cortesã, assim como não era esperado que revivesse a experiência da infância e fosse forçada a entregar a única filha a estranhos.

Durante oito anos a autora viajou pela China procurando conhecer as paisagens descritas no livro; entrevistou diversas pessoas e fez uma pesquisa exaustiva com o intuito de retratar com fidelidade o período histórico da narrativa. Com certeza todo esse trabalho é um ponto forte do livro, mas ao procurar não deixar de fora nenhuma das informações colhidas, por vezes a narrativa torna-se um tanto ou quanto cansativa.

Violet não foi a única personagem com que antipatizei. O comportamento egoísta e irresponsável de sua  mãe quando adolescente também me irritou bastante.

Entretanto com o decorrer da leitura acabei por modificar a minha opinião. Tanto uma quanto a outra crescem bastante como personagens quando são confrontadas com as ciladas da vida e demonstram possuir qualidades de inegável valor, como astúcia, coragem, lealdade e paixão.

Vale do Encantamento é menos empolgante que O clube da felicidade e da sorte ou que A filha do restaurador dos ossos. Mas, mesmo quando não é brilhante, Amy Tan sabe contar uma boa história que vale a pena conhecer.

 

  • Vale do Encantamento

Amy Tan

Editora Planeta

R$ 53,90

E-Book R$ 39,80