Levei dois livros para a pousada onde me refugiei durante o Carnaval: Firmin e A Uruguaia. Achei que fosse suficiente, mas, mais cedo do que esperava, acabei com os dois. Antes que a abstinência por falta de leitura se abatesse sobre mim, decidi reler o segundo. Foi uma escolha acertada, porque certas nuances que haviam escapado inicialmente, puderam ser melhor apreciadas.
Escrito pelo argentino Pedro Mairal, A Uruguaia conta a história de um escritor com quarenta e poucos anos, em plena crise existencial. Seus problemas são de toda a ordem: bloqueio criativo, falta de dinheiro, dependência financeira da mulher, que, por vez, resulta no desgaste do casamento.
Tentando fugir dessa realidade enfadonha, Lucas Pereyra sonha em se envolver com a jovem que conheceu num balneário, do outro lado do rio da Prata, durante um festival literário. A partir daí, eles começam a trocar mensagens pela internet.
A possibilidade de concretizar essa fantasia torna-se viável quando ele precisa viajar ao país vizinho para receber o adiantamento dos direitos autorais de uns livros que ainda terá que escrever. No Uruguai as transações financeiras podem ser feitas em dólares e as taxas são bem mais amigáveis do que na Argentina.
Lucas Pereyra aproveita a ocasião para marcar um encontro com a garota que não vê há um ano.
Infelizmente, nada corre como planejado. Uma sucessão de trapalhadas acaba por transformar a viagem, de apenas um dia, em um pesadelo de consequências inimagináveis.
A Uruguaia retrata com fina ironia os dilemas de uma geração que se imaginou alçando o céu e a glória, e se vê enredada nas dificuldades de um cotidiano banal. Não me surpreenderia se escutasse essa história sendo contada numa mesa de bar, diante de uma garrafa de uísque quase vazia.
- A Uruguaia
Pedro Mairal
Editora Todavia
R$ 44,90