Há posts que são difíceis de escrever como o quê! De tão bom que o livro é, tenho a impressão que tudo o que disser será pouco e banal. Estou falando de A Redoma de Vidro, da escritora norte-americana Sylvia Plath.
Trata-se de um romance semi-autobiográfico. Nele, a autora transfere para Esther, uma jovem brilhante e com um futuro promissor, sua luta contra a depressão e os recorrentes pensamentos suicidas.
Esther tem a impressão de desvanecer dentro de uma intransponível redoma de vidro. O que se passa fora dela é inatingível e desinteressante.
Sempre imaginei a depressão como um nevoeiro denso e pegajoso, impossível de ser compreendida por quem está fora dela. Entretanto, a autora por conhecê-la intimamente, desvenda-a com lucidez e clareza e o leitor acompanha angustiado o deslizar contínuo e sem freios de uma vida motivadora, repleta de possibilidades, para outra em que nada mais interessa ou faz sentido.
A escrita de Sylvia é muito visual e poética, mesmo quando retrata o tratamento de eletrochoques:
“Dr. Gordon colocou duas placas de metal nas minhas têmporas (…) então alguma coisa dobrou-se dentro de mim e me dominou e me sacudiu como se o mundo estivesse acabando. Ouvi um guincho, iiii-ii-ii-ii-ii, o ar tomado por uma cintilação azulada, e a cada clarão algo me agitava e moía e eu achava que meus ossos se quebrariam e a seiva jorraria de mim como uma planta partida ao meio.”
Ou uma tentativa frustrada de acabar com a própria vida:
“Avancei rumo ao fundo, mas, antes que eu pudesse saber onde estava, a água tinha me cuspido de volta para o sol, as coisas cintilando ao meu redor como pedras semipreciosas – azuis, verdes e amarelas.”
A Redoma de Vidro é um livro vigoroso e belo. Infelizmente sua criação não foi suficiente para auxiliar a autora a expulsar seus demônios internos. Algumas semanas depois da publicação do livro, Sylvia Plath suicidou-se.
- A Redoma de Vidro
Sylvia Plath
Biblioteca Azul
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