Falta pouco para o meu aniversário e logo será Natal. Aguardo ansiosa pelos presentes-livros que irei receber. O problema – se é que se pode chamar de problema – é que ainda não dei conta de todos que ganhei ano passado. Como sou indisciplinada, passei na frente outros livros que por alguma razão me atraíram.
Um que furou a fila foi Pequenos incêndios por toda a parte, da escritora norte-americana Celeste Ng. Escolhi porque não queria ler nada muito sério durante os longos voos que fiz ao viajar recentemente.
Com efeito, a narrativa começou bem descontraída, mas gradativamente os conflitos ganharam intensidade. Questões complexas sobre a maternidade foram levantadas: o desejo de ser mãe e não conseguir; escolher maneiras pouco comuns para se ter um filho; adoções inter-culturais e raciais; abandonar um bebê num momento de desespero; fazer ou não um aborto… Com engenhosidade a autora embaralha todas as possibilidades alterando as circunstâncias e as crenças iniciais dos personagens.
Ao terminar Pequenos incêndios por toda a parte, tive vontade de emendar com o outro livro de Celeste Ng, Tudo que nunca Contei, mas me contive. Depois de tanto tempo sem ir a Portugal, regressei determinada a descobrir os novos escritores portugueses.
Lembrei que ganhara no ano passado Índice médio de felicidade escrito por David Machado. O livro recebeu em 2015 o Prêmio da União Europeia de Literatura. Fiz uma ótima escolha ao resgatá-lo do esquecimento, porque encontrei um escritor de texto ágil e claro.
A narrativa se passa durante a grave crise econômica que atingiu Portugal em 2008. O personagem principal, apesar de sofrer graves revezes profissionais, procura manter o otimismo. Cada manhã é um novo desafio. Talvez fosse mais fácil se ele se concentrasse em resolver apenas os próprios problemas, mas não é assim que ele age. Não dá para ser feliz se fingir que não vê as mazelas dos amigos ou se ignorar o pedido de ajuda de uma estranha.
Impossível não comparar aquela época com a atual realidade brasileira. Certo que o governo de lá tomou medidas duras e impopulares – o mesmo terá que se fazer por aqui -, mas fiquei com a sensação de que o mais importante foi a mudança da mentalidade dos portugueses. Daniel, personagem principal do livro, representa uma nova geração que não se conformou com a perspectiva de um destino sombrio e, com determinação e muita criatividade, arregaçou as mangas para modificá-lo.
Índice médio de felicidade é uma leitura inteligente para se começar 2019 com o pé direito. Quanto a mim, vou correr atrás da outra obra do David Machado publicada no Brasil: Deixem falar as pedras. Que bom que meu aniversário está próximo!
dez 12, 2018 @ 07:05:51
Paula, acabo de ler “Tudo que Nunca Contei” da Celeste Ng, estamos sincronizadas! Com a Fagulha começaremos 2019 com o pé direito! A seleção da Fagulha 2018 foi tão variada: Martha Medeiros, Ian McEwan, Garcia Marquez, Ruy Castro e Nelson Rodrigues, incluindo ilustradores, auto ajuda, clube do livro, projetos sociais, guias de viagem, prêmios literários, até o Sebastião Salgado visitou a Fagulha!! A cada semana, uma deliciosa surpresa, uma verdadeira fagulha de ideias! Desejando uma ótima Fagulha 2019, desde já, muito curiosa.