Admito que tudo que diz respeito a livrarias, editoras e afins, me atrai. Por essa razão, recentemente, adquiri dois livros que abordavam esse mundo.
O primeiro, Amor nas Entrelinhas de Katie Fforde foi uma decepção total. A trama era repleta de clichês, como a jovem livreira apaixonada pelo que faz e não liga a mínima para a própria aparência; a excentricidade inglesa versus a irascibilidade viril irlandesa; ou a falsa modéstia servindo de escudo para a baixa autoestima de uma mocinha com diversos talentos inexplorados.
Enfim, deveria ter dado ouvidos a uma amiga, que ao ver a capa do livro, comentou: “Hummm, está me cheirando a um tremendo água com açúcar”. E não é que ela tinha razão?
Portanto foi com um pé atrás que comecei a ler A vida do Livreiro A.J. Fikry de Gabrielle Zevin.
Mais uma vez deparei com o velho clichê do livreiro rabugento e preconceituoso, que tem ojeriza a todos os autores que ganham rios de dinheiro, por considerar o que eles escrevem de pouca qualidade ou apelativo demais. (Como se, atualmente, uma livraria pagasse suas contas vendendo apenas o que dono gosta.)
A.J. Fikry é o proprietário de uma pequena loja localizada em uma ilha – na costa da bonita região de Massachusetts, e ficou viúvo há pouco menos de dois anos. Talvez seja por isso que não tenha muita paciência com os clientes, além de ser desleixado com ele mesmo. (mais clichês).
Após uma noite de solitária bebedeira, Fikry tem seu bem mais precioso – um livro raríssimo – roubado, e, poucas semanas depois, algo mais surpreendente lhe acontece. Ao retornar de uma caminhada, encontra no chão do estabelecimento um bebê menina, e, sobre o balcão, um bilhete pedindo que cuide bem dela. (Acredite essas duas pontas, aparentemente desconexas, no final irão se encontrar).
Ao decidir ficar com a criança a vida do livreiro sofre uma reviravolta, empurrando-o para novas possibilidades e recomeços.
No início de cada capítulo Fikry sugere a leitura de contos ou romances que foram importantes em diversos momentos de sua vida. Alguns não foram publicados no Brasil, e outros como “Do que estamos falando quando falamos de amor” de Raymond Carver, recebeu um título bem diferente, passando a se chamar “Os iniciantes” (devidamente anotado no caderninho, para não me esquecer de o ler um dia).
Apesar de reconhecer a relevância das novas tecnologias, a autora faz uma bonita homenagem às livrarias – como polos culturais de uma comunidade, e aos livreiros – responsáveis por orientarem e estimularem os clientes a conhecerem novos autores.
Thomas Merton, monge trapista, foi quem disse primeiro: “nenhum homem é uma ilha”, mas Fikry aprimorou a frase acrescentando ao slogan de sua livraria: “cada livro é um mundo”.
Nenhum homem é uma ilha; Cada livro é um mundo.
Preciso dizer que gostei da história inteligente e sensível de “A vida do livreiro A. J. Fikry”?
- A vida do livreiro A. J. Fikry
Gabrielle Zevin
Editora Paralela
R$ 24,90
E-book R$ 16,90