Esqueça a Maitena dos quadrinhos “Mulheres Alteradas”, onde o universo feminino é retratado com ironia e alguma frivolidade.
Depois de quatro anos e 13 versões diferentes, finalmente estava pronto o seu primeiro romance: “Segredos de Menina“. Um livro que custou a ser escrito por carregar fortes tintas autobiográficas.
O titulo escolhido na versão brasileira é bem diferente do original “Rumble” – única homenagem ao passado de desenhista da autora – e que quer dizer “o som da terra vibrando sobre os pés, ou quando as pedras caem pela ladeira ou um vulcão está prestes a explodir, rumble!, rumble!, escrevem em letras vermelhas com as bordas em zigue-zague”.
Como não conheço nenhuma menina, entre os doze e quinze anos, que não tenha e guarde segredos de “vida ou morte”, prefiro o título original Rumble que retrata com perfeição a forma – caótica e instável – como a personagem tenta equilibrar a própria vida.
“Segredos de Menina” conta a história de uma adolescente dividida entre a elegante Buenos Aires e a pachorrenta Bella Vista – “bairro residencial de ruas de terra onde a metade é milico e a outra metade Opus Dei e em alguns casos as duas coisas ao mesmo tempo” – durante a década de 70, época perigosa assombrada pela truculenta ditadura militar.
Assim como a personagem, a autora também nasceu em uma família tradicional, cresceu cercada por muitos irmãos, pais afetivamente ausentes, e aos dezessete anos foi mãe solteira .
Apesar de ter dito em uma entrevista*, que nem “tuuuudo” o que está no livro aconteceu de fato, ele é um retrato bastante fiel de sua adolescência.
À medida que descrevia a mãe da personagem, era da própria que falava. E pela primeira vez a viu com toda a nitidez, e compreendeu o porquê de suas neuroses e frustrações.
O mesmo processo ocorreu ao escrever sobre o pai. Antiperonista ferrenho, católico fervoroso e especialista em Educação, o pai de Maitena inicialmente apoiou o golpe militar (acreditava que os militares apesar de burros eram boa gente) e em 1981 – durante o governo do general Viola – foi por 8 meses Ministro de Cultura e Educação . Dizia que a imprensa internacional publicava notícias mentirosas para desestabilizar o governo. Foi tremendo o choque quando – reinstaurada a democracia – soube que era tudo verdade.
Hoje, apesar de confiar na inocência do pai, Maitena diz que ele não tinha o direito de ter sido tão ingênuo.
Com “Segredos de Menina” a autora exorciza todos os fantasmas, e pela primeira vez assina um livro com o sobrenome do pai: Burundarena. Finalmente, depois de tantos anos o passado estava devidamente enterrado e perdoado.
- Segredos de Menina
Maitena Burundarena
Editora Benvirá
R$ 29,90
- Muitas das informações contidas neste post foram extraídas de:
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/radar/9-7327-2011-09-12.html
ago 13, 2013 @ 11:10:55
Olá, Paula!
Essa eu não podia deixar de comentar! Adoro Maitena e esse livro, sem dúvida, será o próximo da lista!
Estou as voltas com as muitas leituras do doutorado e revezando com a leitura da biografia de Frida, que é outra mulher que adoro a personalidade.
Frida e Maitena expressam na sua arte(seja da escrita ou pintura) seus sentimentos, crenças, desejos e percepções da vida…são maravilhosas!
Beijos.
PS.: estava com saudade de passar por esse blog maravilhoso!
ago 13, 2013 @ 13:58:50
Oi Mariana,
Enquanto lia o livro lembrava-me do slogan de uma marca de cigarros da década de 70 “You’ve come a long way, baby!”
Tão distante da realidade que a mãe da personagem/autora vivia nessa mesma época. Uma mulher da classe média alta, formada com louvor no curso de arquitetura, querendo exercer a profissão, mas confinada em um casamento que lhe deu uma penca de filhos e um marido ausente tanto física quanto emocionalmente.
Se quiser conhecer Maitena um pouco mais não deixe de ler a entrevista que está no final do post.
Beijo,
P.