Editado recentemente no Brasil, “Os olhos amarelos dos crocodilos” é o primeiro livro da trilogia escrita por Katherine Pancol e esteve várias semanas na lista dos mais vendidos na França, quando foi publicado em 2006.
Leve e despretensioso, é perfeito como leitura de férias, ou então para aqueles momentos em que se está com a cabeça quente e procura-se algo distraído para ler e esquecer os problemas.
A trama envolvendo duas irmãs com personalidades e estilos de vida totalmente diferentes, não é das mais originais.
Iris, a primogênita, é linda, maravilhosa e não tem preocupações financeiras. Por sua vez Josephine é desde pequenina o patinho feio. A primeira é admirada por todo o mundo, a segunda leva uma vida sacrificada no subúrbio e tem uma filha adolescente insuportável.
Tudo muda, quando displicentemente, Iris comenta num jantar que começou a escrever um romance histórico sobre a vida das mulheres no séc. XII. Pressionada a publicá-lo e sem saber nada sobre o assunto, acaba por implorar ajuda à Josephine, que na verdade é historiadora e uma especialista nesse tema. Por se encontrar às voltas com o pagamento de dívidas elevadas, esta acaba por aceitar participar da farsa criada pela irmã.
Apesar de algumas vezes inverossímeis, as tramas paralelas (e eventualmente apimentadas) fazem com que a leitura deste livro repleto de clichês, não seja de todo desagradável.
No entanto “Os olhos amarelos dos crocodilos” acabou por aguçar a minha curiosidade, ao inserir na trama comentários sobre filmes das décadas de 50 e 60, que até então não conhecia.
Forçada a escrever o romance, Josephine depara-se com uma absoluta falta de inspiração. Mas ao conversar com sua amiga e vizinha de porta, tem um “estalo” quando esta lhe conta a história do filme que na véspera havia passado na televisão.
A heroína do seu livro seria como a personagem interpretada por Shirley MacLaine, em “What a way to go!” .¹ Nessa comédia romântica, a protagonista principal procura o verdadeiro amor, casa-se quatro vezes e por quatro vezes fica viúva. Apesar de não dar muito valor às riquezas materiais, cada falecido a deixa mais rica que o anterior e, inevitavelmente sozinha.
Mais uma vez será em outro filme que Josephine encontrará inspiração para compor o perfil de um dos maridos da heroína de seu livro. Ele é a cópia fiel do pregador fanático Harry Powell, personagem de Robert Mitchum, no suspense “The night of the hunter” ², que viaja pelo país seduzindo viúvas ricas para depois do casamento as roubar e assassinar.
Por ultimo, o livro cita o filme “Wild River” ³ com Montgomery Clift, que Josephine, em um raro momento de lazer, assiste debulhando-se em lágrimas, por estar dividida entre a história que se desenrola diante de seus olhos e uma retrospectiva interior não muito positiva que faz de sua própria vida.
Procurei esses filmes na videolocadora que frequento em Salvador, mas ela não alugava nenhum dos três. Tentei encomendar e comprar numa grande livraria brasileira, mas só encontrei “The night of the hunter”. O DVD com Shirley MacLaine está esgotado e “Wild River” além de não constar do catálogo, também não pôde ser baixado pelo aplicativo NETFLIX . Restou-me recorrer à “Mãe” de todas as livrarias e lojas de DVD: a Amazon. Lá encontrei não só os três filmes, mas otras cositas más. Agora é aguardar a chegada do correio!
¹ “A senhora e seus maridos” (Br.) – 1964 – diretor: J. Lee Thompson, com Shirley MacLaine, Paul Newman, Robert Mitchum, Dean Martin, Gene Kelly
² “O Mensageiro do diabo” (Br.) (1955) – diretor: Charles Laughton, com Robert Mitchum e Shelley Winters
³ “Rio Violento” (Br.) (1960) diretor: Elia Kazan, com Montgomery Clift e Lee Remick
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