Quando menina li “O diário de Anne Frank”. Este livro foi um divisor na inocência das leituras que havia feito até então. Antes, os maus eram sempre punidos e os bonzinhos recompensados. Agora não, aquela história era real, uma menina da minha idade, havia sofrido tudo aquilo que estava lendo. O Mal com toda a sua estupidez, crueldade e frieza realmente existia, e tinha vencido.
Como era possível que um povo tivesse fechado os olhos às atrocidades cometidas contra uma parcela dos seus? Não me referia aos campos de concentração nem aos fornos crematórios, contra os quais teoricamente todos se oporiam, mas às perversidades cotidianas, que paulatinamente foram escorraçando os judeus, como se fossem seres pestilentos, ou portadores de doenças não apenas físicas, mas também morais. Como puderam concordar com isso, como conseguiram fingir que ignoravam o que estava acontecendo ao seu redor?
Durante muito tempo li e vi muitos filmes sobre o tema, mas aos poucos percebi que além desse fascínio, algo me deixava desconfortável. Era como se ao fazê-lo estivesse a bisbilhotar de forma leviana o sofrimento e a derrocada não de um grupo, mas de pessoas únicas, que tinham um nome, idade, gostos, idiossincrasias, pessoas assim como eu, minha família ou meus amigos. Então por vergonha parei. Para mim tornou-se desagradável ler ou assistir a esses relatos desumanos, enquanto o fazia sentada tranquilamente na poltrona da sala, tendo do lado um copo cheio de algo gostoso para beber.
Há alguns meses, lutando contra essa minha antiga resistência comprei “A chave de Sarah”. Por quase dez dias fui arrebatada, com o relato das consequências trágicas de uma decisão tomada por uma menina judia, minutos antes de ser arrancada de sua casa, pela policia francesa.
Recentemente uma amiga emprestou-me “Aqueles que nos salvaram”, e mais uma vez mergulhei nos horrores da segunda guerra. Desta vez a história narrava a vida de civis não judeus e o que fizeram ou deixaram de fazer para sobreviver. Esta também não era uma história bonita, muito pelo contrário. Como sempre houve gestos de altruísmo e de heroísmo, mas na maioria das vezes as opções feitas terminaram por criar muros de vergonha intransponíveis.
Ao terminar de ler este livro, percebi que o que me incomodava não era apenas a minha curiosidade de espectadora, distanciada das atrocidades cometidas, mas também a dúvida de como me comportaria se estivesse diante dos fatos narrados.
Espero sinceramente continuar pelo resto da minha vida com essa dúvida. Gostaria de acreditar que sou imbuída de nobres sentimentos e espero sinceramente que o meu lado mais mesquinho e covarde jamais se manifeste.
É cômodo não querer ler ou ouvir o que perturba a paz de espírito, não é assim que nos comportamos muitas vezes? Mas 6 milhões de judeus morreram no Holocausto e portanto há 6 milhões de histórias a serem contadas, e a isso eles têm direito.
jul 10, 2012 @ 13:44:30
Excelente Paulinha, só vc mesmo para compartilhar tanto conhecimento e cultura com seus amigos.
Genial sua “novidade”, vou divulgar.
E serei sua seguidora fiel.
Parabéns!
jul 11, 2012 @ 10:20:31
Obrigada pelo carinho, seu comentário me estimula a ler e escrever mais. Beijo Paula
jul 10, 2012 @ 19:50:20
Muito feliz por te ler, querida… assim me sinto mais próxima!! Adorei o blog, a temática… vai no meu, tb…já vai completar 3 aninhos, em 22 de agosto. Já incluí na lista dos Outros Viajantes.
Beijo! Ju
jul 11, 2012 @ 10:18:38
Estou seguindo seus passos, um dia chego lá! Beijo e saudades
jul 11, 2012 @ 10:01:13
Oi, Paula! Adorei o blog e já indiquei para amigos que gostam de ler!
Estou te seguindo!
Beijo,
Mari
jul 11, 2012 @ 10:17:48
Obrigada minha amiga por seu apoio e estimulo neste meu começo como blogueira. beijo
jul 15, 2012 @ 13:09:28
Querida Paula, sempre considerei suas indicações lucidas e 100% confiáveis. Que este blog seja o reconhecimento do seu excepcional talento como crítica literária. Sucesso e bjs da sua seguidora-fã, Claudia
jul 15, 2012 @ 15:47:40
Querida Amiga, obrigada por seu comentário incentivador. Beijo Paula